Mais do que nunca temos visto em nossos dias uma verdadeira batalha em torno da defesa da liberdade religiosa. Muitas entidades, até mesmo não religiosas, buscam defender o direito da livre prática das muitas crenças. E toda esta batalha gira essencialmente em torno do modo como se presta culto à sua divindade. O mundo tem defendido, com poucas exceções ― o mundo mulçumano ―, que cada pessoa adore livremente ao seu deus. Alguns, e não poucos, manifestam a opinião de que não se deve condenar nenhuma religião, sob pena de incorrer em condenável crime do preconceito contra a cidadania. Todos dizem que qualquer pessoa tem o “direito” de adorar ao deus que deseja e da forma que imagina. I. G. Vos afirma que se esta palavra “direito” não for bem entendida teremos muita confusão e mal entendido. Na verdade há uma diferença entre direito civil e direito moral.
O direito civil tem sua validade no âmbito da sociedade humana, mas o direito moral tem validade no âmbito da Lei moral de Deus. Ninguém pode impedir que um homem de muitas posses gaste seu dinheiro em orgias e em práticas mundanas se esse é seu desejo. O governo civil não pode dizer: “Gaste seu dinheiro apenas em coisas que sejam filantrópicas e nunca egoístas”. O que o governo pode e deve fazer é cobrar deste homem, que ele pague seus impostos e não proceda de forma a afrontar ou prejudicar qualquer cidadão. No entanto, quando este homem está diante de Deus, usando destas práticas luxuriosas e carnais, ele tem de abandoná-la e pensar naquilo que Deus determinou que não deve ser feito, sob pena de ser condenado ao prestar contas no dia do juízo. Assim, podemos entender que a lei ci vil garante a qualquer pessoa cultuar seu deus como desejar ou até mesmo nunca cultuar, desde que alguma coisa escandalosa não seja praticada, ou não coloque em risco a vida de alguém ou não degrade a sociedade civil.
Mas parece que os crentes imaginam que esta lei civil de liberdade religiosa deve ser aplicada nas igrejas de hoje. Esquecem que diante da Lei moral de Deus ninguém tem o direito de adorá-Lo da forma como deseja. O homem tem uma natureza corrompida e esta corrupção o leva sempre a buscar uma forma impura de cultuar a Deus, mesmo que suas intenções sejam sinceras. Desde cedo o homem teve de aprender a cultuar ao Criador. Foi-lhe necessário adorar com fé, para que Deus aceitasse sua adoração ― fé em alguma verdade. O homem tem de adorar crendo na vontade de Deus revelada. Vemos em toda a Escritura que Deus sempre estabeleceu o modo correto do homem adorá-lo. Deus sempre colocou diante do homem princípios para a pureza da adoração. Deus não pode ser cultuado segundo as imaginações e invenções humanas, nem através de qualquer representação visível. A ênfase é que Deus não pode ser cultuado através de nenhum outro modo que não seja prescrito ou ordenado nas Escrituras. Por isso o crente não pode pensar como o mundo pensa. Sua liberdade religiosa não deve ser vista como uma liberdade para fazer o que deseja, mas como uma libertação das ciladas e amarras de Satanás que o incita a adorar da maneira que ele pensa; o Cristão é liberto de seus pensamentos carnais para fazer a vontade de Deus revelada na Bíblia.
Segundo as Escrituras, o culto não deve ser prestado a anjos, nem a santos, nem a qualquer outra criatura, mas somente a Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Deve ser um culto simples através da oração com ações de graça, da leitura das Escrituras, da sã pregação da Palavra, do cântico dos salmos, pela administração correta dos sacramentos e, em ocasiões especiais, com ações de graça, jejum, votos e juramentos. Assim dizem os teólogos de Westminster.
Somos gratos aos reformadores por redescobrirem o culto simples praticado no período apostólico. Dr. Pipa do Seminário de Greenville ilustra aos seus alunos a simplicidade do culto reformado, dizendo: “Outra maneira de pensar sobre a simplicidade do culto é o que chamo de portabilidade (de portátil) de culto. Portabilidade significa que nós podemos realizar nossa adoração em qualquer lugar. Essa é a simplicidade da adoração, nós apenas precisamos de um púlpito, uma mesa para a comunhão, um livro de louvor, um pequeno frasco de água, um pouco de vinho e um pão ― isso é o suficiente”. Esta é uma característica do culto def endida pelos reformadores. Quão diferente dos dias de hoje! Envergonhado não preciso mencionar as distorções cúlticas praticadas hoje quando este princípio da simplicidade é esquecido.
Apenas lembro que a Bíblia repreende ao falso adorador dizendo: “Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo” (Cl 2:23). Exorta ao verdadeiro adorador dizendo: “Tudo o que eu te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás, nem diminuirás” (Dt 12:32); “... porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12:29); “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, que eu vos mando” (Dt 4:2); “porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Ex 20:5-6).