Numa palestra dada (em 1952) aos membros da Primeira Igreja Reformada em Paterson, Nova Jersey, o Rev. John P. Muilenburg, anteriormente missionário na China, disse, entre outras coisas, “Desde que voltei para América, eu olho para a igreja com temor e tremor porque muitos dentre nosso povo não sabem realmente o que a igreja significa. Em nosso Cristianismo Americano temos uma tola tolerância que diz que não faz diferença no que você crê, contanto que você tente viver uma boa vida. Esta atitude é totalmente errada. Nós devemos saber no que cremos e o que significamos”.
“Os Comunistas não cometem este engano”, continuou a apontar o Sr. Muilenburg. “Eles realmente treinam e educam o seu povo”. Não disse o nosso Senhor certa vez, “Os filhos deste mundo são para a sua própria geração mais sábios do que os filhos da luz” (Lucas 16:8)? Talvez possamos aprender uma lição até mesmo dos Comunistas. A questão freqüentemente me ocorre: o membro normal de nossas igrejas de persuasão Reformada está pronto para defender as doutrinas que cremos e ensinamos? Se não, de quem é a culpa? É, quem sabe, culpa da igreja?
História
Não havia catecismos — no sentido de pedagogia eclesiástica dos jovens do pacto — na igreja medieval. A instrução das crianças era considerada um dever mais doméstico do que eclesiástico. O Protestantismo, contudo, com sua ênfase nas Escrituras como a única regra de fé e prática, enfatizou a doutrinação das crianças como uma das implicações eclesiásticas do batismo infantil. Os Reformados particularmente começaram a pensar em termos do pacto da graça como logicamente correlacionado com a doutrina do batismo infantil. Esta ênfase sobre o pacto da graça naturalmente implicou numa ênfase sobre a instrução através de catecismos das crianças do pacto.
A instrução através de catecismos continuou a florescer à medida que a Reforma Protestante se espalhou para outros países. Na América também, inicialmente, havia muita ênfase sobre o catecismo. A instrução, naqueles dias primitivos, era principalmente uma questão de memorizar respostas e perguntas, e os livros de catecismo consistiam somente de séries de perguntas e respostas.
Desde 1850, tem havido nas igrejas Americanas, em geral, um definido abandono da instrução através de catecismo. Gradualmente a escola Dominical, que pretendia ser originalmente uma instituição missionária, entrou sorrateiramente nas igrejas e tomou o lugar das classes de catecismo. Em muitas igrejas Americanas hoje, as classes de catecismo não existem mais.
Obrigação Pactual
Isto, contudo, não deveria ser assim. A instrução através de catecismo é definitivamente uma parte da obrigação das igrejas para com os seus jovens. Esta obrigação, de fato, como indicado acima, está fixada na própria relação pactual que existe entre Deus e o Seu povo. A questão pode ser levantada: É tarefa da igreja doutrinar as crianças? Esta tarefa não pode ser deixada para o lar, ou para a escola Cristã (quando há uma)? A resposta a esta questão é que é mais decididamente tarefa da igreja doutrinar seus jovens, visto que os jovens da igreja estão incluídos no pacto que Deus fez com o Seu povo. A doutrina do pacto é um princípio fundamental da teologia Reformada – tanto que Herman Bavinck disse que a teologia Reformada não pode ser entendida em nenhum ponto, à parte da doutrina do pacto.
Mas a doutrina do pacto é muito mais. Ela é também o princípio regulador da vida Reformada, a qual deve ser vivida totalmente à luz do fato de que somos o povo do pacto de Deus – somos Sua possessão peculiar. Deste princípio regulador flui a necessidade do catecismo. A igreja, que administra o batismo como um sinal e um selo da membresia pactual, deve, depois do batismo, assumir a responsabilidade de treinar as crianças do pacto no entendimento de sua relação pactual, e de conduzi-las à aceitação de suas obrigações pactuais. Tendo recebido o primeiro selo da membresia pactual (batismo), a criança deve ser treinada de forma que possa no tempo devido receber o segundo selo da membresia pactual (a Ceia do Senhor), e possa viver uma vida completamente cercada de obediência pactual e de serviço ao reino. A igreja, que administra os selos do pacto, não pode se omitir de sua obrigação de treinar aqueles a quem ela administra estes selos. A tarefa de treinar os jovens do pacto nas doutrinas do pacto é, portanto, de uma importância primária. Deve ser categorizada ao lado da pregação, como uma das principais tarefas da igreja.
A Abordagem Pactual
Permita-me adicionar aqui que a instrução através do catecismo é precisamente a pactual, ao contrário da não-pactual, abordando o treinamento das crianças da igreja. O treinamento não-pactual da criança, exemplificado, por exemplo, pelo Movimento de Evangelização da Criança, ignora a distinção entre as crianças dentro e fora do pacto da graça, e o significado do batismo infantil. Preocupado principalmente com as crianças terem aceitado o Senhor Jesus Cristo como Salvador pessoal, este tipo de abordagem tende a ignorar a segunda parte da Grande Comissão de Cristo: “Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mateus 28:20). Mas a abordagem através do catecismo, reconhecendo a benção da membresia pactual, aspira ajudar as crianças batizadas a apreciar seus distintos privilégios como um membro do pacto da graça, a entender as implicações desta membresia pactual, e a aceitar as obrigações envolvidas nesta membresia pactual, pelo poder do Espírito Santo. Este é a única abordagem apropriada para qualquer igreja que ensina e pratica o batismo infantil.
Podemos olhar para a importância da instrução através do catecismo a partir de um outro ponto de vista. A criança do pacto deve aprender qual é a principal mensagem da Bíblia (como interpretada à luz dos padrões Reformados), qual é o ensinamento doutrinal de sua igreja, e no que sua igreja difere das demais. Em outras palavras, ela deve saber o que significa ser um Cristão Reformado. Embora a casa e a escola Cristã representem uma parte também no processo de ensiná-la tudo isto, a igreja deve assumir primariamente a responsabilidade por três razões. Primeiro, de acordo com a Bíblia, a igreja é “a coluna e baluarte da verdade” (1Timóteo 3:15). Por conseguinte, o ensinamento da verdade doutrinária é peculiarmente sua tarefa. Em segundo lugar, esta matéria doutrinária pode ser mais bem ensinada pelo pastor, que teve uma educação teológica. Em terceiro lugar, porque o domínio deste tipo de assunto requer uma definida quantia de memorização e assimilação, as classes oficiais de catecismo da igreja são o melhor lugar para isto ser feito.
Concluo arriscando uma definição de catequese: "Catequese é o treinamento eclesiástico dos filhos da aliança com vistas a prepará-los para a profissão de fé, para serem membros ativos na igreja, e para serem úteis ao reino. À luz dessa definição o propósito da catequese será o de ensinar o filho da aliança naquilo que ele precisa saber para fazer uma profissão de fé consciente, da igreja a que pertence; para ser um bem informado membro dessa igreja; para estar preparado para testemunhar do ensinamento da igreja; e para viver uma vida cristã totalmente de acordo com os princípios ensinados pela sua igreja.
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Anthony Hoekma nasceu na Holanda (1913) e mudou-se para os Estados Unidos com a família em 1923. Foi pastor de várias igrejas e professor de Teologia Sistemática no Calvin Theological Seminary. Autor de vários livros entre eles “A Bíblia e o Futuro” e “Salvos Pela Graça” da Editora Cultura Cristã.
Artigo extraído da New Horizons, January 2003 com permissão. Extraído de uma palestra dada em 15 de Março de 1952, num encontro patrocinado pelo Comitê de Educação Cristã da OPC. Reimpresso (com uma pequena edição) do The Presbyterian Guardian, 15 de Abril de 1952, pp. 57-58. O autor cita a ASV. Reimpresso do New Horizons, Janeiro de 2003.