A OBRA DA CRIAÇÃO — OS ANJOS
Os anjos são membros de uma grande corporação, com natureza ou substância espiritual, criados para serem espíritos que ministram sob o comando de Deus. Os Puritanos tinham uma visão elevada dos anjos, contudo eles continuamente subordinavam os anjos à autoridade de Deus. Normalmente, a explicação que eles davam a respeito dos anjos estava em conexão com outro tópico, ou fazia parte da exposição de uma passagem relevante da Escritura. Observando que muitos outros cometeram erros na supra-exaltação dos anjos, os Puritanos enfatizaram que devemos continuamente ser guardados por uma paixão pela meditação de Cristo somente, e da glória de Deus somente.
O Catecismo Maior de Westminster (Q. 16) diz, “Deus criou todos os anjos como espíritos imortais, santos, poderosos e excelentes em conhecimento, para executarem os seus mandamentos e louvarem o seu nome, todavia sujeitos à mudança”. Isto ressalta duas importantes verdades: anjos tem semelhanças em relação à Deus, contudo, como criaturas, eles também possuem diferenças também.
Os anjos são parecidos com Deus quanto ao fato de serem espíritos invisíveis que são impalpáveis – isto é, eles não podem ser sentidos (Lucas 24:39). Além disso, os anjos são racionais, dotados com as nobres faculdades do entendimento e da vontade (Efésios 3:10; cf. Salmos 103:20; Lucas 15:10).
Contudo, Deus é infinitamente mais glorioso do que os anjos (Salmos 148:13), e eles estão muito abaixo Dele. Portanto, existem diferenças significativas entre os anjos e Deus. Os anjos são criaturas, e portanto estão completamente sobre o domínio do seu Criador. Deus criou os anjos santos (cf. Mateus 25:31; Marcos 8:38; Apocalipse 14:10), mas a sua santidade é infinitamente menor do que a Dele (Apocalipse 15:4). Os anjos possuem grande conhecimento (2 Samuel 14:20), mas apenas Deus conhece os corações dos homens (Jeremias 17:10) e o futuro (Isaías 41:23). Os anjos se destacam em poder (Salmos 103:20; Efésios 6:12; 2 Tessalonicenses 1:7; cf. Mateus 28:2-7), mas apenas Deus pode criar o mundo (Isaías 40:28) e sustentar a sua existência (Hebreus 1:3). Adicionalmente, somente Deus pode regenerar a alma como uma nova criação (Efésios 2:10). Os anjos foram criados em um elevado estado de glória, contudo eles não são imutáveis, e muitos deles caíram (Judas 6).
Uma história detalhada dos anjos não está prontamente evidente na Escritura. Está claro que eles foram determinados de acordo com o eterno decreto de Deus. A predestinação de anjos se enquadra dentro do conselho secreto de Deus, e portanto é grandemente oculto. Portanto, a eleição e a reprovação de anjos (cf. 1 Timóteo 5:21) pode ser considerada paralela à do homem, de algumas formas. Contudo, enquanto alguns homens são escolhidos para salvação, do pecado, e mais importante, em Cristo, nenhuma destas qualificações estão relacionadas aos anjos eleitos. Esta é uma distinção essencial.
A Escritura testifica que os anjos são seres criados (Colossenses 1:16). O período da sua criação é difícil de determinar, mas é certo que foi durante os seis dias de criação de todas as coisas (cf. Jó 38:7). Deus permitiu que alguns anjos caíssem da glória da sua criação original. Portanto, existe um período em que os anjos foram confirmados em seus status – como anjos eleitos ou demônios. Os primeiros foram estabelecidos em santidade por toda a eternidade, enquanto os últimos foram confirmados na sua queda. O período e a forma desta confirmação não discutida extensivamente na Escritura.
Os anjos eleitos são, hoje em dia, servos de Deus. Eles existem em vasto número (Daniel 7:10; Mateus 26:53; Hebreus 12:22). Deus emprega as suas hostes de anjos, primeiramente, para glorificar a Si mesmo e, em segundo lugar, para servir a Sua criação, mais particularmente o Seu povo.
Os anjos celebram a glória de Deus, clamando três vezes “Santo!” (Isaías 6:3). Os anjos adoraram a Deus desde os primórdios da criação (Jó 38:7) e vão continuar a adoração através da glória eterna (Hebreus 12:22-23; Apocalipse 5:11-12; cf. Lucas 2:13-14; 15:7,10; Hebreus 1:6). Eles anelam perscrutar as maravilhas do Seu evangelho (1 Pedro 1:12).
Os anjos também estão ocupados servindo os herdeiros da vida eterna (Salmos 91:11-12; Daniel 10:13,20; Hebreus 1:14). Eles ministram aos homens (Gênesis 24:7; Êxodo 23:23; Daniel 6:22; Lucas 1:19,26; Atos 12:1-11; Hebreus 1:14; Judas 9), vigiando-os como sentinelas (2 Reis 6:17; Salmos 34:7). Deus ordena aos Seus anjos que cuidem dos Seus santos – mas não governam sobre eles ou recebem adoração deles. Além disso, a noção popular de um anjo da guarda especial para cada crente individual não tem suporte Bíblico. Ao invés disso, a Escritura afirma uma verdade ainda mais preciosa: o cuidado de um crente não é a tarefa de apenas um anjo; todo o exército angelical, em consenso, cuida de cada crente e de sua salvação (Gênesis 32:1-2; 2 Reis 6:17; Lucas 15:10; 16:22).
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Décimo quarto artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org