A DOUTRINA DO PECADO — A QUEDA DO HOMEM
Nenhum evento lançou uma sombra mais escura sobre a vida humana, através de todos os séculos, do que a queda dos nossos primeiros pais, do seu estado de justiça e retidão, vida, e comunhão com Deus, para o estado de pecado, morte, e corrupção em todas as faculdades e partes da alma e do corpo. Nenhum aspecto da experiência humana é mais crucial para a compreensão do mundo em que vivemos, o desespero da sua situação, e quão necessário foi que Deus interviesse mandando o Seu Filho ao mundo, “para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3:17).
A queda do homem foi o ponto mais crítico para a humanidade. No Éden, Adão e Eva viveram uma vida muito diferente da nossa. Eles se sentiam em casa no seu mundo, felizes em seu casamento, abençoados na sua vida e trabalho, e em paz com o seu Deus. Culpa e vergonha, doença e morte, luxúria e desejo, dor e perda, e inimizade e perigo eram desconhecidos. Não havia nenhum espinho para perfurá-los, nenhum cardo para estragar a beleza do seu jardim lar, nenhum suor em suas testas. Tudo mudou quando eles sucumbiram às mentiras da serpente e desafiaram a lei de Deus.
Perguntas triviais podem desvirtuar a correta compreensão da queda do homem. A serpente era real? Ele foi real o suficiente para servir aos propósitos de Satanás! A serpente realmente falou, ou foi Satanás que expressou pensamentos na mente de Eva? De qualquer maneira, ela recebeu a mensagem. Adão realmente se juntou a Eva para pecar contra Deus? A verdade trágica é simples: a evidência do que ele fez é livre de controvérsias.
A imputação do pecado de Adão para toda a sua descendência natural é uma pressuposição do evangelho. Os seres humanos estão perdidos desde a sua concepção e nascimento, até mesmo antes deles começarem as suas carreiras pessoais de pecado. O Filho de Deus se tornou o Filho do Homem, para a expiação pelos pecados, através da Sua morte no lugar dos pecadores. Negar a queda do homem no pecado é usurpar a morte de Cristo do seu significado redentivo e do seu poder salvífico.
A realidade da queda como fato histórico é demonstrada por seus muitos amargos e persistentes efeitos nos seres humanos, nos dias de hoje: “Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos” (Romanos 3:10-18).
Cada linha desta passagem foi extraída da Bíblia Hebraica. Paulo não precisou realizar nenhum pensamento original acerta do estado de queda do homem; estava tudo atestado na Escritura muito tempo antes da sua época.
Os teólogos descrevem o homem caído como sendo totalmente depravado ou corrompido. Alguns compreendem o termo com o significado de que o homem e a mulher são tão maus quanto eles conseguem ser. Graças à mão restritiva de Deus, os homens e as nações raramente percebem o seu pleno potencial para o pecado. Houveram Herodes e Hitlers através da história, contudo muito menos do que poderíamos esperar. O Império Romano foi idólatra e devasso, mas não além do poder do evangelho para transformá-lo na primeira superpotência Cristã do mundo.
Ao limitar a extensão da queda pela isenção de alguns aspectos dos seres humanos dos seus efeitos, foi aberto o caminho do homem caído para ser o seu próprio salvador. Se o seu intelecto não está obscurecido, então ele pode encontrar salvação através do uso da razão e do crescimento em conhecimento. Se a sua vontade não está escravizada, então o homem tem a palavra final na sua salvação, bem longe da vontade de Deus. Se o corpo do homem não carrega as marcas da queda, então os defeitos, as deformidades, as doenças, o envelhecimento e a morte, são naturais e normais para a nossa raça, ao invés de males que precisam ser combatidos e superados, ou inimigos pelos quais Cristo morreu para os derrotar. Vamos pedir a Deus para nos mostrar, com ainda maior profundidade, o resultado trágico da nossa queda, para que possamos compreender mais profundamente as maravilhas extraordinárias do evangelho.
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Décimo oitavo artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org