A DOUTRINA DE CRISTO — OS PACTOS DE DEUS
Encarando a morte face a face, José recobra as forças para um ato final de fé em Gênesis 50. Ele recordou as promessas de pacto Deus a Abraão (Gênesis 15:13-14) e assegurou a seus irmãos que Deus iria tirá-los do Egito e levá-los para a Terra Prometida. Ele ordenou a eles para “transportar os meus ossos daqui”, fazendo-os jurar. De forma semelhante, Moisés levou consigo os ossos de José, quando Israel saiu do Egito (Êxodo 13:19).
Por que José tinha certeza de que Deus cumpriria Suas promessas? É porque ele sabia que as promessas eram determinações da aliança de Deus com Abraão, seladas com o juramento de Deus, “duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta” (Hebreus 6:18). Deus havia falado. Isto era suficiente para José.
A noção de pacto ou aliança é mais velha do que a Bíblia e está embebida na cultura do antigo Oriente Médio. Os autores humanos da Escritura usam este conceito de pacto ou aliança, sem explicação ou elaboração para os seus leitores. O significado fundamental da palavra hebraica berith é “contrato” [“agreement”]. A palavra grega diatheke significa “acordo” [“arrangement”] e é aplicada para um “testamento”, ou seja, o instrumento legal pelo qual alguém dispõe de bens e propriedades terrenas, depois da morte. As duas palavras têm em comum o caráter obrigatório do que é “contratado” ou “acordado” (Gálatas 3:15). Promessas precisam ser cumpridas e obrigações precisam ser realizadas, não importa o que aconteça.
As alianças de Deus são “contratos” entre Ele e Seu povo, definindo seu relacionamento com Ele. Existem duas partes: primeiro, o que Deus promete fazer por eles, e segundo, o que eles são obrigados a fazer em resposta. Muitos pactos são registrados na Escritura: o pacto das obras, implícita na história de Adão e Eva, e sua vida no Éden regulamentada pelos mandamentos de Deus (Gênesis 1, 2); o pacto da criação com Noé, depois da destruição do mundo antigo pelo dilúvio (Gênesis 9); o pacto com Israel, promulgada no Sinai (Êxodo 19, 20); e o pacto com Davi e sua casa (2 Samuel 7).
Estes pactos foram ofuscados pelo pacto (ou aliança) da graça, feito com Abraão (Gênesis 17:7), confirmado e renovado como a “nova aliança” no sangue de Cristo (Jeremias 31:31-34; Mateus 26:28), e proclamada como “a promessa” por Pedro no Pentecostes (Atos 2:39). Os outros pactos são aplicações do pacto da graça para certas pessoas, ou para suas necessidades ou circunstâncias especiais. Alguns continuam a vincular Deus e homem (o pacto das obras, o pacto da criação com Noé), mas outros têm sido cumpridos em Cristo (os pactos com Israel e com a casa de Davi), e não estão mais vinculados.
Justificados pela fé em Cristo, os Cristãos são a semente abençoada do “fiel Abraão” (Gênesis 15:6; Romanos 4:11-12; Gálatas 3:7-9). Juntamente com seus filhos, eles estão ligados a Deus e a Seu povo, e Ele os ligou a Si mesmo, como o seu Deus (Genesis 17:7; Atos 2:39). Os filhos dos crentes, contudo, não estão salvos automaticamente pela relação pactual; ao invés disso, eles precisam ser pessoalmente trazidos ao arrependimento e à fé no Senhor Jesus Cristo. Pela graça de Deus, e através da fé salvífica, eles são herdeiros de tudo o que Deus tem lhes prometido, em Cristo; eles são obrigados, por amor a Cristo, a abrir caminho para este único Deus, confiando Nele e amando a Ele, como todo o seu coração, abandonando o mundo, crucificando a velha natureza, e andando em novidade e santidade de vida.
O Novo Testamento dá muita atenção ao desenvolvimento e várias ênfases entre o pacto antigo, feito com Israel no Sinai através de Moisés, e o novo pacto estabelecido em Cristo, no cumprimento das promessas feitas a Abraão. A epístola aos Hebreus expõe exaustivamente este desenvolvimento, mostrando a superioridade de Cristo e da Sua “nova aliança”, em relação a qualquer coisa que tenha sido concedida a Israel através de Moisés.
Notando esta diferença, alguns têm argumentado que a lei moral resumida nos Dez Mandamentos (Êxodo 20, Deuteronômio 5), como parte do pacto Mosaico, não se aplica aos Cristãos que estão debaixo do evangelho. Contudo, muito tempo antes de Moisés, a lei moral foi escrita no coração humano (Romanos 2:14). O pecado foi imputado e punido com a morte, desde Adão até Moisés (Romanos 5:13-14). O próprio Senhor Jesus Cristo declarou que Ele não tinha vindo para revogar a lei (Mateus 5:17). Como uma regra de vida para os crentes, a lei moral é parte essencial do pacto da graça.
_______________
Vigésimo Segundo artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org