A DOUTRINA DA ELEIÇÃO — A JUSTIFICAÇÃO SOMENTE PELA FÉ
Em Gálatas 2:16, Paulo vai direto ao coração do que significa ser um Cristão: “temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei”. Paulo está citando a maior de todas as promessas de Deus. Ele prometeu o perdão dos pecados para todos aqueles que verdadeiramente crerem somente em Jesus Cristo para a salvação, libertando-os de toda a culpa, e imputando a eles a justiça perfeita de Cristo, como uma cobertura para todas as suas enfermidades e pecados remanescentes. Sendo pessoas justificadas, eles são justos, em Cristo, diante de Deus, e herdeiros da vida eterna.
Esta doutrina é tão antiga quanto a Bíblia. Abrão “creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gênesis 15:6). Davi declarou: “ Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade” (Salmos 32:1-2). Isaías registra a promessa de Deus: “o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (Isaías 53:11). Ainda, a Palavra de Deus para Habacuque foi “o justo viverá pela sua fé” (Habacuque 2:4).
Pregando para os Judeus em Antioquia, Paulo anuncia a Jesus como o Filho de Deus, crucificado, morto, e enterrado, mas ressuscitado da morte por Deus, como o Salvador de Israel, em cumprimento da promessa feita aos seus pais: “Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se vos anuncia remissão de pecados por intermédio deste; e, por meio dele, todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés” (Atos 13:38,39). Esta doutrina foi ensinada por todos os apóstolos, mas coube a Paulo expô-la detalhadamente em suas epístolas.
Nos séculos seguintes, a igreja Cristã veio a equiparar a justificação com a santificação, afirmando que um pecador tinha que buscar a justificação, aderindo a um regime severo de penitência, e auxiliado por infusões de graça através dos sacramentos. O objetivo não foi tanto o de justificação, mas o de purgação, ou limpeza dos pecados. Reconhecendo que a conquista deste objetivo, nesta vida, estava além das habilidades da maioria das pessoas — na realidade, é claro, de todas as pessoas — a igreja pré-Reforma prorrogou o caminho da penitência e da purificação para a próxima vida. Ela reduziu o perdão a uma mercadoria, na forma de perdões eclesiásticos, ou “indulgências”, que eram vendidas por agentes especiais conhecidos como “perdoadores”.
Um destes agentes, Johann Tetzel (1465-1519), comumente bradava “Assim que a moeda cair no fundo do cofre, a alma salta do purgatório!” (“As soon as the coin in the moneybox rings, the soul from Purgatory springs!”, rimando em inglês). Em 1517, Martinho Lutero respondeu com as suas “Noventa e Cinco Teses”, combatendo o sistema de penitência e a venda de indulgências ou perdões. Lutero passou a reafirmar a doutrina bíblica da justificação somente pela fé em Cristo, como o grito de guerra da Reforma.
A justificação é a dádiva gratuita de Deus para todos aqueles que creem em Jesus Cristo como o único Salvador, encontrando Nele todas as coisas necessárias para a sua salvação. Não é exigido nada de nós, exceto a fé. A extensão é para todos os pecados, exceto para o pecado da descrença, e depende completamente do que Cristo é e do que Ele fez, e não depende de nada em nós.
Alguns veem uma contradição entre Paulo e Tiago, sobre a justificação por fé, independentemente das obras. O fato é que Tiago está fazendo uma pergunta sobre a fé, e não sobre justificação (Tiago 2:14). A fé que justifica não é uma fé morta, mas é sempre acompanhada por graças tais como a autonegação, o arrependimento, e a gratidão a Deus, e sempre produz frutos na forma de boas obras feitas em conformidade com a lei de Deus, e para a Sua glória. Paulo concorda com Tiago que uma fé sem tais graças e frutos é uma fé morta, que não consegue justificar um pecador. As obras de Abraão e Raabe mostraram que a sua fé era viva, ativa e justificadora de verdadeiros Cristãos. “Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor” (Gálatas 5:6).
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Trigésimo sétimo artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org