A DOUTRINA DA IGREJA — A IGREJA
“Gloriosas coisas se têm dito de ti, ó cidade de Deus!” (Salmos 87:3). “Cidade de Deus” é uma das muitas metáforas bíblicas para a igreja. Ela expressa a segurança desta comunidade, delimitada por muros altos e fechada por portões robustos, e aponta para a sua posição exaltada como o local de habitação de Deus entre os homens. Quão gloriosas coisas se têm dito desta cidade? Em primeiro lugar, o seu lugar singular no amor e propósito eternos de Deus; em segundo lugar, os direitos e privilégios que Deus concede aos seus membros, no pacto da graça; em terceiro lugar, as promessas que Deus fez para provê-la com todas as boas coisas e desviá-la de todo o mal, ou direcioná-la para o seu próprio bem; finalmente, as profecias que Deus concedeu em relação ao seu plantio e florescimento na terra, e a sua glória definitiva em Cristo.
A palavra “igreja” é usada 112 vezes na Bíblia em inglês (“church”), para traduzir a palavra grega “ekklesia”, que significa “aquele que é chamado para fora” ou “assembleia”. Contudo, a palavra em inglês é derivada de outra palavra grega usada apenas duas vezes no Novo Testamento, “kuriakos”, que é um adjetivo usado para caracterizar algo como “pertencente ao Senhor”, seja na Ceia do Senhor (1 Coríntios 11:20) ou no Sábado (“Sabbath”) Cristão como o “Dia do Senhor” (Apocalipse 1:10). Em nosso uso para esta palavra, ela é aplicada para descrever o corpo daqueles que pertencem ao Senhor, para as suas assembleias no culto público, e para os lugares onde eles se encontram. Por isso, é dito que os Cristãos são a igreja, vão para a igreja, e se encontram em uma igreja.
Além destes significados básicos, existe uma doutrina da igreja (“eclesiologia”) que pode ser encontrada ao longo de toda a Escritura. A igreja apareceu pela primeira vez, por implicação, em Gênesis 4:26, e a partir de então, mais diretamente nas casas e famílias dos patriarcas. Destes pequenos começos, ela cresceu até se transformar em uma nação de doze tribos e famílias bastante numerosas para se contar, persistindo por muitas gerações, até a vinda de Cristo. Sob o evangelho, as suas fronteiras são estendidas até os confins da terra, de tal forma que ela se torna o ajuntamento daqueles que foram redimidos com Deus pelo sangue de Cristo, procedentes “de toda tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse 5:9).
Em 1 Pedro 2, o apóstolo se baseia nesta eclesiologia bíblica para mostrar que tudo o que foi verdade para a igreja debaixo da lei, também é verdade para a igreja debaixo do evangelho, contudo em um grau mais exaltado. Por exemplo, o templo terreno, feito por mãos humanas, foi substituído por uma “casa espiritual”, construída de “pedras que vivem”. A igreja debaixo da lei tinha um sacerdócio; debaixo do evangelho, a igreja inteira é um “sacerdócio real”. Debaixo da lei, os membros da igreja ofereciam sacrifícios de animais para Deus; debaixo do evangelho, estes sacrifícios físicos deram lugar a “sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo”.
Pedro enraiza a igreja de ambos os testamentos no decreto eterno de Deus, predestinando e elegendo os seus membros para a vida eterna e glória em Cristo. Consequentemente, a igreja é a “geração eleita” ou “raça eleita” (1 Pedro 2:9), que é uma referência à adoção dos seus membros como os filhos e filhas de Deus, como consequência da sua eterna eleição em Cristo, que é a “pedra angular” da igreja, como o verdadeiro templo de Deus.
Pedro é tão zeloso quanto Paulo, para assegurar aos crentes dentre os gentios a sua plena incorporação na “nação santa” e como “povo de propriedade exclusiva” (cf. Efésios 2:11-22). Portanto, há uma continuidade entre a igreja debaixo da lei e a igreja debaixo do evangelho. As únicas diferenças são a substituições das coisas físicas inferiores, terrenas e temporais, por coisas espirituais, celestiais e eternas, e a extensão dos direitos e privilégios de poucos, para muitos outros (1 Pedro 2:10).
O Cristianismo é frequentemente reduzido a uma relacionamento pessoal com Cristo. Contudo, cada um daqueles que pertencem a Cristo estão vinculados a se juntar à igreja, e a se unir a ela ao professar a verdadeira religião. Faz parte da vontade de Deus que recebamos os meios de graça dispensados por seus ministros, e que vivamos sob o governo e o cuidado dos anciãos (ou presbíteros) a quem Cristo nomeou para alimentar as Suas ovelhas (1 Pedro 5:1-4). Grandes bênçãos estão prometidas para aqueles que amam a igreja e orar pela sua paz e bem-estar (Salmos 122:6-9).
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Quadragésimo sétimo artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org