A DOUTRINA DA IGREJA — OS MEIOS DE GRAÇA
O apóstolo Paulo declara: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8-9). De onde vem esta fé? Como esta dádiva de Deus é concedida ou comunicada? A resposta, proveniente do Cristianismo histórico, é que ela vem de Deus e dos meio de graça que Cristo designou em Sua igreja. Todas as ordenanças, ou coisas ordenadas por Cristo (Mateus 28:20), estão em vista nesta resposta, mas os meios primários são a Palavra de Deus, as Sagradas Escrituras, “que podem tornar-te sábio para a salvação” (2 Timóteo 3:15). Davi exalta o poder salvífico da Palavra, declarando que “A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma” (Salmos 19:7).
Não há conflito entre a fé na soberania de Deus e o uso dos Seus meio apontados para obter o que Ele promete para nós. Como Deus, o Espírito Santo é livre para operar quando, onde, e como Lhe apraz, com ou sem o uso de meios. Apesar disto, os meios de graça são recomendados a nós pelo próprio fato de que o Deus soberano nos ordenou que os usássemos.
Uma distinção precisa ser feita entre a bondade de Deus mostrada a todas as criaturas, por meio da qual Ele derrama boas dádivas sobre toda a humanidade, tanto a justos quanto a injustos, e aquela graça especial e salvadora comunicada apenas para os eleitos de Deus. A Bíblia afirma, “O SENHOR é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras” (Salmos 145:9). Contudo, “Mostra a sua palavra a Jacó, as suas leis e os seus preceitos, a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; todas ignoram os seus preceitos” (Salmos 147:19-20).
A singularidade das Escrituras como um meio de graça encontra-se na sua própria natureza: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hebreus 4:12). Contudo, por causa da descrença, ignorância, e escuridão dos nossos corações caídos e corrompidos, apenas o Espírito Santo é que torna a leitura e a pregação da Palavra efetiva como um meio de graça, usando a palavra para iluminar a nossa escuridão, operando fé nos nossos corações, e nos habilitando para receber a Cristo como Salvador, e para servi-lo como Senhor.
Outros meios de graça estão subordinados à Palavra de Deus. O Santo batismo e a Ceia do Senhor são a Palavra de Deus tornada visível para confirmar a verdade das promessas de Deus para nós. A oração é um meio pelo qual estas promessas são invocadas por crentes, para “recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4:16). O louvor é um meio pelo qual a graça de Deus, a Palavra de Cristo habitando em nossos corações, é derramada em ações de graças para Deus, conforme nós cantamos os “salmos, e hinos, e cânticos espirituais”, incluídos no cânon da Escritura, e sendo dirigidos pelo Espírito Santo (Efésios 5:18-21; Colossenses 3:16).
Nós nunca devemos atribuir eficácia aos próprios meios, por si mesmos, ou apenas ao puro uso deles. A água do batismo não pode lavar os pecados. O pão e o vinho da Ceia do Senhor não são e não podem se tornar a carne e o sangue vivificadores de Cristo. O Cristianismo de um homem não pode ser medido pelo número de sermões que ele ouviu, ou orações que ele recitou. É possível realizar todas as coisas certas, contudo sem um coração crente: “tudo o que não provém de fé é pecado” (Romanos 14:23). Ainda assim, aqueles que creem que Deus instituiu estes meios de graça, fazem diligente uso deles.
A igreja precisa conceder um lugar de destaque à boa pregação sonora da Palavra. Os seus membros devem ouvir tal pregação com fé e submissão, desejando conhecer, crer, e obedecer a vontade de Deus revelada através dela. Os sacramentos devem ser administrados apenas em conjunto com tal pregação, e precisam ser recebidos em fé por todos que irão se beneficiar deles. Para orar eficazmente, as nossas mentes precisam estar cheias com a verdade da Palavra de Deus. Para louvara de maneira aceitável, os nosso corações precisam estar preenchidos com a Palavra de Cristo e com o Espírito Santo.
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Quadragésimo oitavo artigo da série "Grandes Doutrinas da Fé Cristã Reformada". Publicado com autorização
* The Reformation Heritage KJV Study Bible, Joel R. Beeke (editor geral), Reformation Heritage Books (RHB), Grand Rapids, Michigan, 2014, “List of In-Text Articles”. http://kjvstudybible.org